
O avanço da dengue no Sul do Brasil acende um sinal de alerta para autoridades e especialistas. Em um cenário antes protegido pelo frio, a região enfrenta agora surtos intensos da doença. Isso acontece porque as mudanças climáticas têm favorecido a disseminação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue. Por conta desse avanço da dengue no Sul, só no Rio Grande do Sul, até o dia 8 de maio, o número de casos confirmados já ultrapassa 15 mil, com oito mortes registradas. Trata-se de um reflexo claro da crise climática e de seus impactos diretos na saúde pública.
Clima mais quente amplia alcance do Aedes aegypti
Com o aumento das temperaturas e invernos cada vez menos rigorosos, o ambiente se tornou mais propício à reprodução do mosquito, e impulsionando cada vez mais o avanço da dengue no Sul. Como consequência, o Aedes aegypti agora se prolifera em áreas antes consideradas pouco vulneráveis. A taxa de transmissão no estado já passou de 2,08, o que significa que cada pessoa infectada pode contaminar mais de duas outras.
Além disso, 474 municípios gaúchos já apresentam infestação — número que supera os registros de 2024. Segundo Diego Ricardo Xavier, pesquisador da Fiocruz, “a dengue está completamente ligada ao clima”. Ele ressalta que o aquecimento global tem empurrado o vírus para regiões subtropicais e até montanhosas. Como resultado, locais como Espanha e França já enfrentam infecções locais.
InfoDengue alerta para novo padrão da epidemia
De acordo com o sistema InfoDengue, também da Fiocruz, o Brasil já contabiliza mais de 1,7 milhão de casos suspeitos de dengue em 2025. Desse total, aproximadamente 68% são prováveis. Isso representa um crescimento expressivo em relação ao ano anterior.
A epidemiologista Cláudia Codeço explica que os relatórios do sistema passaram a considerar variáveis climáticas, revelando uma forte correlação entre o aquecimento global e o aumento de casos. Segundo ela, “mesmo pequenas alterações no clima já conseguem manter o ciclo do vírus durante o inverno”. E, com a chegada precoce da primavera, os números disparam.
Como a dengue afeta o corpo humano
A dengue se transmite quando a fêmea do Aedes aegypti pica uma pessoa infectada e passa a carregar o vírus. A partir daí, ela pode infectar outras pessoas ao longo da vida. Os sintomas mais comuns incluem febre alta, dores no corpo e na cabeça, manchas vermelhas e fadiga extrema.
A infectologista Emy Akiyama Gouveia alerta que, embora muitos quadros sejam leves, a doença pode evoluir para formas graves. Sinais como vômitos persistentes, dor abdominal intensa e sangramentos indicam a necessidade de atendimento médico imediato. Além disso, a médica ressalta a importância da hidratação e alerta sobre os perigos da automedicação: “o atraso na reposição de líquidos está entre os principais agravantes”.
Da história à realidade atual: dengue e seus desafios
A dengue não é uma ameaça recente. Registros históricos da doença remontam à China do século III. No Brasil, os primeiros surtos documentados ocorreram no século XIX. Embora o mosquito tenha sido erradicado nos anos 1950, ele retornou com força nas décadas seguintes, impulsionado pela flexibilização das políticas públicas de controle.
Mesmo com campanhas de vacinação em curso, o combate à dengue segue difícil. A cobertura vacinal ainda é baixa, e o Aedes aegypti já se espalha por todo o território nacional, tornando-se um desafio contínuo.
Estudo aponta vínculo direto entre dengue e aquecimento global
Um levantamento da Universidade de Stanford revelou que o aquecimento global já responde por cerca de 19% dos casos de dengue no mundo. Temperaturas entre 20 °C e 29 °C favorecem a circulação do vírus. Além disso, as projeções indicam que o número de infecções pode crescer até 200% nas próximas décadas em regiões endêmicas.
Esse cenário reforça a urgência de políticas públicas eficazes, voltadas à prevenção e controle da doença. A dengue deixou de ser um problema sazonal e passou a representar uma ameaça contínua à saúde pública.
A dengue como reflexo da crise climática
O crescimento acelerado dos surtos de dengue no Brasil, sobretudo no Sul, revela um novo capítulo da crise ambiental e sanitária que o país enfrenta. A relação direta entre mudanças climáticas e a propagação do vírus exige respostas rápidas e estruturadas. Não basta apenas combater o mosquito — é essencial investir em infraestrutura, educação ambiental e campanhas permanentes de prevenção.
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